quarta-feira, 26 de setembro de 2018

U2 - Concerto de Lisboa - 2018

"Reflexões pós-concerto (se houver paciência para ler)

Bono, meu caro…

Escrevo-te estas palavras sem alguma esperança que as leias.
Na verdade isso nem sequer importa.
Talvez seja a forma de te agradecer a influência na fase adulta da minha vida.
Não aquela influência doentia de autógrafos e selfies.
Será mais aquela influência de grandes causas e grandes canções que, inevitavelmente, nos ligam a momentos chave da vida.
Acho que ia adorar estar umas boas horas a conversar contigo numa esplanada com vista para o oceano, mas não abdicaria de tomar banho apenas pelo aperto de mão que me darias ou pelo abraço na despedida.
Vejo-te mais como um amigo que me lembra períodos de dor, mas também períodos de extrema felicidade que experimentei ao longo dos últimos trinta e cinco anos.
Não sou daqueles que pensam que tudo em que tocas se transforma em ouro, embora reconheça que é praticamente assim.
Foste abençoado com uma dose de talento como poucos seres humanos alguma vez poderão ter ou ter tido.
A voz, os dotes de composição, as letras sublimes e uma sensibilidade extrema para aquelas causas que, apesar de óbvias, nem todos as conseguem ver, ou que nem todos querem arriscar abraçar.
Há trinta e cinco anos, num estádio de futebol, enquanto esperava pelo começo do jogo, ouvi os primeiros acordes de New Year’s Day.
Nesse momento senti-me diferente. Algo que nesse momento não consegui identificar.
Mas muito bom, sem dúvida.
Tal como o mote para esta vossa ultima tourné, também eu, do alto de quase cinquenta e cinco anos de experiência, tento manter a inocência.
E só essa mescla das duas me permite recuar a esses tempos e identificar a sensação que me percorreu o corpo. Foi prazer puro.
E consigo revivê-lo de cada uma das muitas vezes que revisito esta canção.
A descoberta dos álbuns anteriores foi fascinante e aquilo que estava para vir manteve toda a minha admiração. Na altura, no início da relação com a mulher da minha vida, renasci.
Para trás ficava uma infância e adolescência felizes, mas o que veio a partir daí, superou tudo.
Mais uma vez, durante estes dois últimos concertos, desfilaram perante mim, os hinos a esta fase da minha vida. Por momentos até imagino que os escolhes propositadamente.
Os hinos que fazem voltar sentimentos guardados de experiências passadas.
O amor pela mulher que me deu o verdadeiro sentido da vida, a descoberta do amor por uma filha, revivido vinte e cinco anos depois com o nascimento da minha neta, as saudades do amor da minha mãe, mas também, a dor do desaparecimento prematuro do meu grande amigo Gonçalo que tanto gostava de te ouvir cantar…
Pois é, amigo Bono, já devias desconfiar que tinhas este poder de fazer as pessoas viajarem no tempo. E é mesmo disto que se trata em cada concerto a que assisto.
Uma experiência que afasta de mim as preocupações e as frustrações do presente ao mesmo tempo que me transporta para recordações memoráveis de uma vida que me deu uma boa dose de experiências maravilhosas, com umas pitadas de algumas dolorosas.
E enquanto assisto a cada um destes fantásticos espectáculos, lembro-me que, apesar da experiência acumulada de todos estes anos, permanece alguma da inocência da infância.
Bono, meu velho, resta-me agradecer-te pela sublime banda sonora desta parte, também ela sublime, da minha vida. Não te esqueças de agradecer aos rapazes, principalmente ao Larry, pois sem ele nada disto era o que é… nem para ti, nem para mim."

(texto "roubado" numa página de fans de U2)

Para quem não conseguiu ir ao concerto aqui fica o video da 1ª parte

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